Fazer uma tatuagem, para muitos, é uma escolha importante e acertada. Para outros, é hobby, arte por arte. Para Bebel Lélis, pessoense crescida em Taperoá, terra de Ariano Suassuna, tatuar é gravar ancestralidade na pele. Tatuadora desde 2019, ela usa a xilogravura em madeira para gravar a arte na pele dos clientes, quando, na verdade, já cresceu com a arte exposta na alma.
“Minha criação em Taperoá foi o que me formou enquanto identidade, vivi cercada de cultura em todos os lados. Meu pai tinha feito um teatro e uma biblioteca em casa para dar vazão às suas necessidades sociais e comunitárias. Minha mãe além de poetisa é artista plástica e as paredes lá de casa eram cheias de quadros”, conta Bebel.
A arte, portanto, sempre foi elo, caminho e ligação entre a vida pessoal, profissional e para todas as formas de expressão. Construir um futuro em que a arte ocupasse um lugar importante na sua vida não era mais uma opção, mais uma urgência.
Construiu uma relação íntima e pessoal com a gravura, mais especificamente com a xilogravura, na infância, por meio de oficinas ministradas por Arnilson Montenegro. Em 2008, ingressou na graduação de Arte e Mídia, na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), desenvolvendo trabalhos audiovisuais, por muitas vezes unindo-o ao tradicional.
Durante a pandemia criou uma animação digital e deu vida ao personagem chamado “Chico Canina Cameovo”, dando o primeiro passo para explorar a técnica mais a fundo. Com a interação do público com as gravuras, Bebel começou a explorar a arte de forma comercial, levando-a também para tatuagem, técnica que estudava desde 2019 mas só em 2021 abriu ao público.
Para fazer a tatuagem, Bebel entalha a gravura na matriz, depois carimba essa matriz na pele, fazendo o decalque e, em seguida, começa a tatuagem. “Muitas vezes as pessoas me contam sua história, ou a história que querem homenagear, às vezes me trazem fotos de família para transformar em xilo e às vezes escolhem entre obras minhas que já estão prontas”, revela.
Quando os projetos são pessoais dos clientes, pedido por encomenda, é possível levar a madeira e a impressão manual da xilogravura para casa, podendo emoldurar.
“Pra mim é uma técnica que possui uma ancestralidade que consegue me conectar com minhas raízes ao ponto de se tornar natural a mim criar a partir de entalhe. O trabalho manual e a estética têm um elo muito forte com minha identidade. Na tatuagem não é diferente, tanto que eu só tatuo o que eu consigo entalhar e carimbar, não trabalho com outros estilos ou técnicas”, explica.
A artista é técnica em audiovisual e atua como diretora, montadora, animadora, fotógrafa e editora.
“Eu me surpreendo a cada dia com o caminho que a tatuagem tem traçado para mim. Todo esse trajeto foi marcado por grandes surpresas, até porque eu não esperava tanto quanto venho conquistando e tenho a expectativa da tatuagem ser um dos meios de transporte da arte que produzo pro mundo”, se expressa Bebel.