O jovem de 23 anos que foi preso suspeito de abusar sexualmente de um adolescente com transtorno do espectro autista (TEA), em João Pessoa, era conhecido da família há mais de uma década, segundo informaram os pais da vítima. De acordo com o pai do adolescente, o suspeito ficava “cuidando” da vítima, no turno da noite, enquanto os pais estavam na faculdade, e era tratado quase como “alguém da família”.
O crime foi descoberto pelo pai do adolescente, de 14 anos, após voltar para casa e perceber um corte no rosto do suspeito. “Eu já tinha percebido alguns sinais importantes que meu filho dava, de que algo estava errado. Quando a gente saía para a faculdade, ele corria do sofá e se cobria dos pés à cabeça, algo que ele não fazia. No dia em que eu notei o corte, quando chegamos da universidade, percebemos que a linguagem corporal do suspeito estava alterada”, contou o pai.
Segundo o homem, que preside uma associação de pais de pessoas autistas junto à mãe do adolescente, no dia seguinte ao fato do corte, ele perguntou ao suspeito como ele havia se machucado, e ele ficou nervoso e disse que tudo aconteceu durante uma brincadeira com a criança, em um cômodo da casa.
“Eu disse a ele que quando voltasse ia ver as imagens das câmeras do quarto, que foi o local onde ele passou 25 minutos com meu filho. Quando chegamos em casa após a faculdade, ele foi embora para casa muito nervoso e em cerca de uma hora, apagou todas as redes sociais. Neste mesmo dia nós levamos meu filho para o hospital e fizemos um boletim de ocorrência”, contou o pai da vítima.
A informação da prisão foi confirmada na quinta-feira (23), pela delegada Joana D’arc, titular da Delegacia de Crimes Contra a Infância e Juventude de João Pessoa. Ela informou que o suspeito morava no mesmo prédio da família e costumava ir à casa deles brincar com o adolescente. O suspeito foi encaminhado para o presídio do Róger, em João Pessoa.
Praticamente da família
De acordo com o pai da vítima, a família conhece o suspeito há mais de 10 anos, e que ele era tratado como alguém da família. “Era amigo do nosso filho, a gente sempre o tratou muito bem, passava o Carnaval na nossa casa, viajava junto, era alguém de total confiança”, disse.
Os pais da vítima estão cursando psicologia, no período noturno, desde o segundo semestre de 2022. Para estudar, eles precisavam de uma pessoa para cuidar do filho, no horário das 18h às 22h, e o suspeito, que é estudante de biomedicina, ficou responsável por essa tarefa.
“Até então não havia nenhum tipo de vestígio de que ele seria capaz de fazer isso, só agora que notamos e ainda bem que conseguimos perceber cedo. Isso foi muito cruel, porque foi mais um caso onde o abuso aconteceu dentro de casa, por alguém que era tido como de confiança. Infelizmente isso é muito comum. São muitos os casos em que os suspeitos são os avós, tios, pais, vizinhos. Alguém no nosso círculo de amizade, no nosso círculo familiar”, contou a mãe da vítima.
A mulher explicou ainda que as famílias precisam ficar atentas aos filhos, para perceberem os sinais de que algo está errado.
“Se as crianças típicas estão sofrendo abusos dentro de casa, imaginem as atípicas, as neurotípicas, as não verbais? Nós conseguimos perceber pois ficamos sempre atentos, eu olho o corpo do meu filho, meu esposo olha as câmeras de segurança. Mesmo a gente acompanhando tudo, ainda aconteceu, mas e nos casos em que as pessoas não têm esses recursos?”, completou.