Após audiência de custódia realizada nesta quinta-feira (18), a Justiça do Rio decidiu manter a prisão de Érika de Souza Vieira Nunes, detida em flagrante suspeita de levar o cadáver de tio Paulo Roberto Braga a uma agência bancária.
Nesta quinta-feira (18), em audiência de custódia, a defesa de Érika solicitou prisão domiciliar, porque ela tem uma filha com deficiência e porque não foi possível atestar que o idoso já estivesse morto quando entrou no banco. Ela é acusada de vilipêndio de cadáver e por furto.
A Justiça negou o pedido da defesa. “A gravidade da conduta é extremamente acentuada e justifica a necessidade da conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva”, afirma. Para a juíza Rachel Assad Cunha, o ponto central não é determinar o momento exato da morte. “A questão é definir se o idoso, naquelas condições, mesmo que vivo estivesse, poderia expressar a sua vontade. Se já estava morto, por óbvio, não seria possível. Mas ainda que vivo estivesse, era notório que não tinha condições de expressar vontade alguma, estando em total estado de incapacidade.”
A magistrada apontou que, mesmo vivo, “tio Paulo” já não estaria em condições de decidir. “Assim, não era possível ao Sr. Paulo, seja pelo motivo que fosse, assentir com o empréstimo, tudo a indicar que a vontade ali manifestada era exclusiva da custodiada, voltada a obter dinheiro que não lhe pertencia, mantendo, portanto, a ilicitude da conduta, ainda que o idoso estivesse vivo em parte do tempo.”
Veja tudo que já se sabe sobre o caso do ‘Tio Paulo’
O caso da mulher que levou um homem morto em uma cadeira de rodas para assinar um documento no banco repercutiu no Brasil e no mundo, causando espanto.
A polícia está investigando o que aconteceu, enquanto a defesa da mulher afirma que o homem teria morrido quando estava dentro do estabelecimento.
Quem são o homem e a mulher envolvidos no crime
O idoso que aparece morto na cadeira de rodas é Paulo Roberto Braga, de 68 anos. E a mulher que o levou para o banco é Erika de Souza Vieira Nunes. Ela diz que é sobrinha e cuidadora do seu tio.
Erika de Souza afirmou em depoimento que Paulo tinha sido internado na semana passada na UPA de Bangu com pneumonia. Ele teria recebido alta na segunda (15).
O que aconteceu
Tudo aconteceu nesta terça (16) na agência do banco Itaú que fica na Avenida Cônego de Vasconcelos 64, em Bangu, bairro do Rio de Janeiro. Erika foi com Paulo até o local usando um carro de aplicativo.
O veículo deixou os dois no no estacionamento do Real Shopping, próximo ao banco, já que a agência fica localizada em uma rua onde não passa carros.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) informou ter sido acionado por funcionários do Itaú às 14h01 e chegou às 14h11.
Já a Polícia Militar contou que foi chamada às 15h20 e que, ao chegar à agência, um médico do Samu atestou a morte de Paulo.
Imagens dentro da agência mostra Erika tentando fazer Paulo assinar um documento. Trata-se de uma ordem de pagamento de R$ 17 mil, algo necessário para sacar o dinheiro. O seguro era direito de Paulo e Erika informou para a polícia que ele queria usar o benefício para comprar uma televisão e fazer uma reforma na casa.
No momento em que os atendentes viram Erika e Paulo no banco, eles estranharam a cena e começaram a notar que havia algo de errado com o idoso. Em seguida filmaram o que estava acontecendo e chamaram o Samu. Uma bancária disse: “Ele não está bem, não. A corzinha não tá ficando…”.
Segundo Fábio Luiz Souza, titular da 34ª Delegacia de Polícia (Bangu), Paulo já estava morto. “Não dá pra dizer o momento exato da morte. Foi constatado pelo Samu que havia livor cadavérico. Isso só acontece a partir do momento da morte, mas só é perceptível por volta de duas horas após a morte”, disse.
A mulher, presa em flagrante por levar o cadáver do suposto tio para assinar empréstimo em um banco.
O caso foi registrado em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro.
O que diz a defesa de Erika sobre a morte
Por meio da advogada Ana Carla de Souza Correa, a mulher afirma que o idoso chegou vivo à agência.
“Os fatos não aconteceram como foram narrados. O senhor Paulo chegou à unidade bancária vivo. Existem testemunhas que no momento oportuno também serão ouvidas. Ele começou a passar mal, e depois teve todos esses trâmites. Tudo isso vai ser esclarecido e acreditamos na inocência da senhora Erika”, declarou a defesa.
O que diz a polícia
Fábio Luiz Souza, titular da 34ª Delegacia de Polícia (Bangu), afirmou que sinais no corpo de Paulo Roberto Braga, de 68 anos, confirmam que o idoso estava morto pelo menos duas horas antes de ser levado ao banco pela sobrinha.
O delegado contou que manchas na pele indicam que Paulo não teria morrido na agência bancária. Essas manchas, chamadas livores cadavéricos, são acúmulos de sangue decorrentes da interrupção da circulação. No caso dele, se acumularam na nuca.
Segundo o titular da 34ªDP, se Paulo tivesse morrido no banco, haveria livores nas pernas, já que ele estava na cadeira de rodas, mas a perícia inicial não encontrou manchas nos membros inferiores.
O que diz o motorista de aplicativo
O motorista de aplicativo que levou Érika e Paulo Roberto para um shopping perto do banco disse, em depoimento, que ficou sete minutos sozinho com o idoso e que ele estava vivo.
Ele detalhou que no momento em que chegou ao endereço deles, em Bangu, Érika estava na calçada esperando o carro.
Além disso, acrescentou que a mulher pediu ajuda a um rapaz para retirar o idoso de dentro da residência.
O motorista disse que não ajudou a embarcar Paulo Roberto no carro e que Érika, o rapaz e as duas filhas dela colocaram o idoso sentado no banco do carona.
Ao chegaram ao shopping, o motorista afirmou que ficou esperando a mulher ir buscar uma cadeira de rodas no subsolo, enquanto isso ficou conversando com um funcionário do shopping no estacionamento.
E quando ela voltou, chegou a segurar a cadeira de rodas para que ela conseguisse retirar Paulo Roberto do carro. Depois disso foi embora.
No depoimento, ele não afirmou se percebeu algo de estranho durante a viagem, nem o fato de o idoso não se mexer tanto quando entrou no carro, ou na hora de sair.
O que diz o laudo da necrópsia
O laudo da necrópsia de Paulo Roberto Braga, de 68 anos, não é conclusivo sobre o horário da morte do idoso, levado para uma agência bancária nesta terça-feira (16) pela cuidadora Érika de Souza Vieira Nunes.
Segundo o perito, não há elementos seguros, do ponto de vista técnico e científico, para afirmar se “tio Paulo”, como era chamado por Érika, “faleceu no trajeto ou interior da agência bancária, ou que foi levado já cadáver” ao banco.
“Apesar das técnicas mais modernas, não pode o perito consciente de suas responsabilidades estabelecer com precisão determinada hora como aquela que ocorreu a morte. No máximo, deve fazer uma aproximação tão segura quanto possível, que inclua o real momento da morte”. Desta forma, a necropsia se iniciando as 11:30h do dia 17/04/2024, o perito pode afirmar que o óbito ocorreu entre 10,5h à 24 horas em relação ao momento da necropsia, sendo assim entre 11:30h do dia 16/04/2024 e 01:00h do dia 17/04/2023″, diz o laudo.
O documento ressalta, ainda, que o exame do médico do Samu na agência, constatando a morte de Paulo, notou livores cadavéricos, que são manchas que podem aparecer de 30 minutos a 4 horas após o óbito.
O legista Leonardo Dias Ribeiro, que assina o laudo, ressaltou que Paulo Braga estava “caquético”, usava fraldas, tinha sinais de escaras (feridas por tempo acamado) e sinais de broncoaspiração de comida, de congestão pulmonar e de falência cardíaca por doença prévia. O idoso ficou internado na UPA de Bangu com pneumonia, com suporte de oxigênio entre os dia 8 e 15 de abril.