Utilizar a língua como um instrumento de fortalecimento da identidade indígena, alfabetizando crianças de forma bilíngue – no português e no tupi. Dessa forma, o ensino do tupi, língua originalmente falada pelos indígenas no litoral do Brasil, faz parte atualmente da grade curricular das 32 aldeias potiguara na cidade de Baía da Traíção, Litoral Norte da Paraíba. Sendo desde 2018 uma disciplina obrigatória da educação infantil ao ensino de jovens e adultos.
O orgulho por ter acesso ao idioma dos povos originários e poder usá-lo no dia a dia é estampado na fala, inclusive, das próprias crianças. A estudante Aynara dos Santos, de 14 anos, se diz orgulhosa de falar a língua dos seus povos. “A gente voltar a falar e ter contato com o tupi é muito bom, porque é algo que já foi nosso lá atrás e que está sendo resgatado”, afirma.
A capacitação dos professores é constante, com aprofundamento do vocabulário e da gramática. Inicialmente, o filósofo e professor da Universidade de São Paulo (USP), Eduardo Navarro, por meio de um convênio com a prefeitura, realizou um curso intensivo com os professores, durante o qual foram formados cerca de duas dúzias de educadores. “No início, utilizamos o meu livro, e mais tarde fomos criando materiais próprios para o uso dos potiguaras. Foi realmente uma experiência muito bonita, que eu espero que frutifique e dê resultados maravilhosos”, explica.
Eduardo Navarro é autor do livro “Método moderno de tupi antigo: a língua do Brasil dos primeiros séculos”, um curso de tupi cuja finalidade básica é tornar acessível o aprendizado desse idioma, de modo que ele não fique restrito a meios acadêmicos.
O professor Thierry Potiguara, da aldeia Alto do Tambá, na Baia da Traição, ressalta, por sua vez, que o curso foi estruturado justamente com a perspectiva de fortalecimento cultural. “Partimos da premissa que a língua é esse pilar identitário, e a identidade do nosso povo é a nossa cultura”, diz.
A língua tupi era falada pelos indígenas principalmente no litoral do Brasil, sendo usada também entre os colonizadores, nos séculos 16 e 17.
PB tem duas cidades entre os maiores percentuais de indígenas.