Mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) mostram o tenente-coronel Mauro Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, orientando que despesas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e de parentes fossem pagas em dinheiro vivo. Ele indicava que as assessoras depositassem valores em uma conta bancária da esposa do ex-presidente.
A PF identificou esses depósitos no âmbito das investigações de um suposto esquema de desvio de recursos e rachadinha no Palácio do Planalto, durante a gestão de Jair Bolsonaro. Mauro Cid está atualmente preso desde o dia 3 de maio, por suspeita de articular um esquema de fraude em certificados de vacinação.
De acordo com a corporação, os pagamentos em dinheiro vivo dificultam o rastreamento de quem enviou essa quantia. E esses pagamentos eram realizados com dinheiro vivo e de forma fracionada.
As mensagens que a PF investigou foram graças à quebra de sigilo em 2022, quando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ordenou a verificação de possíveis irregularidades nessas transações. Mas a apuração começou em 2021, após a quebra de sigilo de mensagens de Mauro Cid.
Essas mensagens mostraram recibos de depósitos financeiros, enviados por ajudantes de ordens da Presidência em um grupo de aplicativo de mensagens. Foram seis depósitos entre março e maio de 2021, com valor total de R$ 8,6 mil; e mais seis entre março e maio de 2021, totalizando R$ 8.520, para Maria Helena Braga, que é casada com um tio de Michelle. Além de outros depósitos, todos relacionados à Michelle.
Possível uso de dinheiro público
Em relatório enviado ao STF, a Polícia Federal vê que as transações descritas e solicitadas nesse grupo de mensagem indicam desvio de dinheiro público para atender despesas da Presidência da República.
“No período compreendido no ano de 2021, em Brasília, por diversas vezes, Mauro Cesar Cid, na condição de ajudante de Ordens da Presidência da República, pessoalmente ou por intermédio de servidores da Ajudância de Ordens, e outras pessoas não identificadas (supridos), desviou e/ou concorreu para desviar dinheiro público oriundo de suprimento de fundos do Governo Federal, em valor total ainda a ser apurado, destinado originalmente ao atendimento de despesas da República”, diz o relatório.
Porém, a PF ainda investiga a origem exata dos recursos usados pelos ajudantes de ordem da Presidência da República para bancar esses depósitos e pagamentos. A defesa de Jair e Michelle Bolsonaro negam as irregularidade e afirmam que os pagamentos foram feitos com recursos próprios. Mas na quebra do sigilo no ano passado, Moraes indicou “fortes indícios” de desvio de dinheiro público da Presidência.